A Mostra do Edital 2010/1 da Galeria 13 apresenta obras de jovens artistas do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo selecionados pelo Edital da Galeria 13.

Artistas participantes: Bárbara de Azevedo | Carlos Gonzalez | Carolina Paes | Danilo Pêra | Davi Flores | Gisele Cáceres | Gustavo Ferro | Luana Saggioro | Nei Franklin | Silvio De Camillis | Tatiana Schmidt |



Montagem






Fotos: Makoto Habu




Tatiana Schmidt

Alguns questionamentos a respeito da obra “Sobras”.
Por Pablo Vieira
Em Sobras a artista, usando roupas pretas com mangas e pernas prolongadas de maneira sobre-humana, se movepelas escadarias de forma extremamente lenta e catársica, como um corpo que escorre ao longo do caminho ou uma sombra que se projeta ao chão em perspectiva absurda, a performance foi elaborada em 2009 e será reapresentada para a atual mostra da galeria 13.
O presente texto é resultado de uma pequena entrevista realizada por email entre Pablo Vieira membro da Comissão da Mostra da Galeria 13 e a artista sobre os processos que levaram à criação de Sobras pela artista Tatiana Schmidt. Foram propostas quatro perguntas, que a artista respondeu em dois blocos.
Pablo - Quais foram as motivações ou questionamentos que a levara a criar a obra "Sobras"? Conte um pouco sobre o processo de criação de sua obra.
Pablo - Em seu texto descritivo sobre a obra você fala sobre uma "poética de sobras" que é retomada neste trabalho, você poderia nos explicar melhor este conceito e como ele é usado nesta performance?
Tatiana Schmidt –“ Eu gosto muito de trabalhar com palavras, escrevo mais do que desenho, acho que a faculdade de letras/ tradutor tem muito a ver com isso. Durante minha produção em pictórica, comecei a buscar referências em imagens que faziam parte do meu dia-a-dia (dou aula de artes visuais em um colégio).Comecei então a desenhar amontoados de papel que eu recortava diariamente para produzir material. Aquelas sobras, restos, ao se amontoarem passavam a ter uma unidade, até mesmo excessiva na minha opinião, pois muito material se perdia (os tais excessos). A partir dessas palavras-chave, excesso e sobras, dei início à minha pesquisa: em dicionários no começo; depois busquei analogias desse paradoxo em minha vida e consequentemente no meu próprio ser. Tento explorar essa relação visualmente com os prolongamentos que criei em meu corpo.”
Pablo - Seu trabalho é realizado fora do espaço expositivo da Galeria 13, porém ainda mantém vínculo com o ambiente acadêmico do Centro Universitário Belas Artes. Como você vê a relação de sua obra e o lugar em que ela se configura?
Tatiana Schmidt – “Em relação ao espaço, busquei uma escada que me proporcionasse maior facilidade de locomoção e visualidade, somente por essa razão a escada do prédio 2 foi escolhida. O movimento de descida me permitia deixar para trás esses prolongamentos, tornando-os as sobras de meu próprio ser.”
Tatiana Schmidt é estudante do sétimo semestre do curso de bacharelado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.

Luana Saggioro





por Ana Ruth Jambeiro
Círculos de fogo imprimindo formas repetidas.
Essa abordagem é semelhante às propostas dos artistas minimalistas, ou seja, a exploração de objetos encontrados ao acaso, utilizados em uma estrutura que se repete.
Essa simples repetição se opõe à idéia de um centro ou foco para cuja direção as formas estão voltadas ou em relação ao qual são construídas, o que nega a interioridade da forma como fonte de seu significado e a afasta das pretensões de um eu particular.
O elemento fogo, matéria primordial difícil de ser controlada, é utilizado de forma original para aplicar cores a um suporte e destaca a obra pelo inusitado da técnica que consegue a um só tempo desenhar formas e imprimir cores através da combustão de papelão sobre um suporte natural.





Gisele Litério






Entre-corpos 2


Por Andrea Carpenter


A gravura da Gisele Litério Cáceres, “entre-corpos 2” é composta de linhas e manchas pretas criando uma forma indefinida apresentando movimento direcionado ao interior da obra que representa a parte interna do corpo.

Essa forma representa órgãos com um mapeamento corporal de veias formadas por linhas. A artista fala de sua obra da seguinte maneira [...] “o movimento é presente e constante e o olhar mergulha em direção ao interior do corpo explorando seu conteúdo, as artérias quase escapam da figura e transitam pelos órgãos.”  

O uso da cor pêssego no trabalho não só remete ao corpo, por ser semelhante à pele, mas também traz uma harmonia na composição da gravura além de uma organicidade para a obra.







Nei Franklin



Entrevista a seguir, concedida pelo artista Nei Franclin, na ocasião da mostra realizada na Galeria 13 do Unicentro Belas Artes de São Paulo. Falando-nos sobre o seu processo de criação e os pensamentos norteadores dos desenhos, intitulado 
Certa manhã acordei de sonos intranquilos", executados a partir da leitura do livro A Metamorfose de Franz Kafka
por Makoto Habu



Você poderia falar um pouco mais sobre o processo que se deu na criação destes desenhos?
No começo de janeiro deste ano reli A Metamorfose de Kafka. A primeira vez tinha uns dezesseis anos e já de cara fiquei impressionado com aquilo, nesta segunda a coisa foi mais pesada porque descobri que estar no mundo adulto é uma das piores coisas da vida e uma das melhores é poder desenhar o que vier à cabeça. Neste caso e sob influencia da leitura arrisquei uns traços com a intenção de transferi-los para a gravura em metal, especificamente a ponta seca. Em principio sabia que o desenho no caderno não seria o mesmo da gravura, até porque acabara de iniciar o semestre e tinha orientação do prof. Paulo Pena que me alertava para as surpresas da gravura, o que foi muito bom. Nesse sentido os elementos referenciais foram variando e os desenhos no caderno também. O desenho/caderno sofre uma metamorfose quando passo a utilizá-lo para anotações das outras linguagens e começo a pensar e “vê-los”, os desenhos, como objetos tridimensionais...


Estas imagens são ilustrações da sua imaginação ou ela surgiu a partir do contato com o material, digo, a caneta sobre o papel?
Ambos, porque nesse momento me forço trabalhar com duas matérias: a memória (da leitura) e os materiais. A caneta e o papel me ajudam a extrair a imagem... Invento pouca coisa, a maior parte retiro dos livros que leio, dos filmes que assisto e das pessoas e coisas que observo.


Que qualidades você enxerga no desenho e o ato de desenhar como instrumento/pensamento artístico?
Minhas referencias pra lidar com a invenção das coisas no mundo da arte, basicamente iniciam-se no mundo onde encontro as coisas que poderiam ser representadas, ou seja, (transformar uma coisa em outra coisa) um desenho é a representação daquilo que vi no mundo real ou uma imagem que se fixou na minha memória de maneiras variadas. Um livro que li e gostei, naturalmente deixa de ser um livro e passa a ser uma coisa que faz parte da minha história e pode influenciar em determinadas situações e escolhas de que material empregar para realizar um desenho... É uma escolha racional, portanto, se opto em fazer uma gravura a partir de um desenho é porque o considero um bom desenho, e se esse desenho surge a partir de uma leitura, melhor ainda e é aí que se dá o movimento do pensamento e a importância do desenho não diminui. De modo que a memória é determinante nesse processo de construção a partir das experiências que vou vivendo.
Interesso-me tanto pela beleza da forma quanto pelo que está ausente em um desenho... Escrevo isso porque recentemente precisei editar uma placa de bronze ou latão pra gravura e não consegui me desfazer dela, ainda...

Davi Flores


Sem título
por Rafael Piovani

Segundo o artista Davi Flores, a obra “ Sem título” (uma caixa pintada de preto com a palavra “brasileira” aparecendo) tem a intenção de, através da ação de cobrir todo o espaço da caixa e escolher a permanência da palavra “brasileira”, criar uma poesia que, nas palavras do artista seria “... organização de letras para a formação de palavras dentro de um universo poético)...”. Um poema que se forma na junção destas ações ( a pintura e a escolha da palavra).

O artista procura, acima de tudo, trabalhar “... tendo a força da cor-pigmento como auxiliar e coadjuvante desse processo.”, ou seja; a pintura não se coloca sozinha nem na frente da obra; ela, na verdade, é um caminho para se chegar à outro tipo de expressão artística: a questão da poesia e da palavra criados através do objeto artístico.

Contudo, o trabalho é muito forte no âmbito plástico também, se apresentando como uma pintura- objeto (tridimensional) e não apenas utilizando a cor na bi-dimensionalidade. Com isso , a força do trabalho não se resume apenas a palavra exposta no objeto, mas também existe na totalidade daquele objeto como um corpo que ocupa um lugar no espaço de diversas maneiras: no âmbito poético, da palavra; da matéria física(tridimensionalidade), e no âmbito pictórico.

Danilo Pêra

Coletivo
por Fernanda Rodrigues
Coletivo é uma litogravura construída através de uma técnica chamada de transferência de imagem, ou seja, é a apropriação de uma imagem que já existe no campo representacional, para inseri-la no campo litográfico e reinseri-la ao campo das representações sob o ponto de vista gráfico.
O artista fez uso de figuras humanas para compor a imagem gráfica e as configurou de forma que parecessem de costas para um espelho, com a intenção de formar uma imagem simétrica. Essa simetria que o artista propõe na realidade não existe, pois as figuras que a compõem são diferentes.
Danilo Pêra abstrai características corporais de cada uma das figuras para dar a elas unicidade e as agrupa também sob ponto de vista da semelhança, sempre em busca dessa simetria inexistente.
Ao nomear a gravura de Coletivo, Danilo Pêra nos faz pensar sobre grupos de pessoas que se unem por afinidades e nos remete também as possibilidades de construção de um coletivo que se dão na linha do infinito, pois diversas configurações de grupo podem acontecer com a ajuda de indivíduos totalmente diferentes. Aponta também para a questão dos coletivos formados por artistas para pensar e fazer arte contemporânea.

Carolina Paes

Equivalente”, “Direção” e “ Horizontal
por Fabio Masami
As fotografias de Carolina Paes possuem uma diagramação, um elogio as dimensões entre o protagonista e o seu oponente. A angulação proveniente entre as obras “Equivalente” e “Direção”, lembra muito as fotografias do russo Aleksandr Rodchenko, com um modo de vista chamado “worm’s eye”, ou seja, faz do objeto algo forte e poderoso.
A linguagem cinematográfica é bem evidente nos trabalhos, o “contre-plongeé”, vista de baixo para cima, assinalada nas fotografias anteriores, e o “plano detalhe” visível na obra “Horizontal”. Esta última por sua vez, distingui-se com o redimensionamento e colocação simétrica do ponto de vista óptico, de foco e profundidade, perceptível entre os fios, conduto de aproximação e defasagem, determinando-a um modo pensado de se manipular a imagem.
A série abriga o urbano, estabelecendo elementos que a compõem: do pequeno objeto que a constrói até as suas relevantes construções, prédios e obelisco. O preto e branco dá um caráter apropriado a cidade, enfatizando as tonalidades das edificações. As fotografias convidam o espectador a olhar detalhes que fogem do nosso cotidiano apressado e corriqueiro, visualizando por momentos minunciosos, olhares únicos e atentos da jovem artista Carolina Paes.

Carlos Gonçalves

Ações funcionais sobrepostas 
por Denise Palmieri
Em performance o corpo fica em evidência. Na performance ”Ações funcionais sobrepostas” de Carlos Eduardo Gonçalves, não só o corpo e suas possibilidades físicas (como diz o artista) são discutidas, mas essas ações comuns e cotidianas são o que instigam o olhar do observador.
Com o desenrolar da ação fica evidente deduzir o que vem a seguir, porém não por isso a obra é menos interessante, pelo contrario, você é estimulado a ver o vídeo até o fim.
Ao colocar essas ações escolhidas (almoçar, tomar banho, lavar louça e lavar roupa) acontecendo ao mesmo tempo o artista colocou a discussão sobre o corpo em performance em segundo plano e trouxe a tona a discussão sobre o estranhamento do automatismo das ações cotidianas sobrepostas dessa forma, num mesmo lugar e ao mesmo tempo.

Bárbara de Azevedo

“Tempestade”
Por Luana Saggioro
Bárbara de Azevedo escolheu dentro de um campo tão abrangente como a arte, trabalhar com vídeo e tecnologias. Desde sua graduação em produção audiovisual em 2006 ela percorre o caminho da videoarte, animações e curtas metragens, participando de mostras e festivais no Brasil e também fora.
O Vídeo “Tempestade” que esta na exposição da Galeria 13 se deu pela pesquisa e exploração do material, a parte processual é importante já que os movimentos repetitivos são causados pela reação do imã sobre a palha de aço, repulsão e atração, e carrega a característica da arte cinética que no Brasil teve Abraham Palatnik como referencia. O movimento na arte cinética teve representações tanto no campo bidimensional e tridimensional como no vídeo, e em “Tempestade” a resposta desse material juntamente com o som não pretende mais que trazer “a iminência de uma tempestade” e seu processo de construção.
É Possível encontrar outros trabalhos de Barbara Azevedo nos sites:

Gustavo Ferro / Silvio de Camillis


SILVIO DE CAMILLIS “Monotipia



GUSTAVO FERRO  “Sobre Lápis


Por Lilian Colosso e Ana Elisa Matos
Optou-se, como parte das propostas curatoriais desenvolvidas durante o semestre, por pensar uma interlocução entre trabalhos que ocupam o mesmo espaço, começando pelas obras que ocupam o espaço novo da galeria, obras de Silvio de Camillis e Gustavo Ferro.

Ambos, através de suas propostas de definição da obra, subvertem a linguagem, Gustavo Ferro definindo questões de desenho sobre um trabalho tridimensional, e Silvio de Camillis apontando questões pictóricas em um trabalho gráfico de monotipia – esse ultimo enfatizando ainda mais essa questão dando ao trabalho o nome da técnica.

As pinturas de Silvio de Camillis tratam da questão dos vestígios de uma matéria pictórica, obtidas através da técnica gráfica monotipia. Estão presentes na exposição três registros diferentes da matéria tinta depositada uma única vez sobre um suporte/matriz (lona plástica). Vejo então essa série de três trabalhos como sendo componentes de uma única pintura: considerando o processo, as impressões de uma pintura feita sobre um suporte impermeável, a fim de repelir ao máximo a tinta, traduz a idéia de que essas três impressões, sendo decalques de uma superfície/situação comum, são como peles “translúcidas” que formariam uma mesma imagem pictórica se fosse possível o processo inverso, de imprimir as três monotipias num mesmo suporte. Além das questões plásticas próprias que ele carrega da superfície pictórica, como cor, forma, textura , o trabalho se assume mas uma vez como pintura, reafirmando-se nessa linguagem.

Já a série “Sobre Lápis” de Gustavo Ferro é composta por bancos articulados em um estarrecedor equilíbrio. As banquetas de madeira equilibradas por lápis, formando um espetáculo acrobático, mexe com as nossas percepções de segurança e fragilidade. A todo tempo imaginamos que um simples toque pode por abaixo uma estrutura que requer tempo e dedicação minuciosa para ser montada. Por outro lado, a obra desperta um prazer velado de presenciar o desabamento para depois acompanharmos passo a passo a reconstrução. Estrutura que o artista propõe ser pensado enquanto desenho.  O desenho não se restringe ao uso do lápis e convenções do desenho sistematizado pela sua tradição. Gustavo Ferro propõe que seu trabalho seja pensado pela possibilidade da experiência humana do desenho enquanto ação, atitude. Muito além de uma prática gráfica expandindo uma definição desgastada de desenho. Propõe pensar o desenho e suas interfaces contemporâneas transdisciplinar.
mais de Gustavo Ferro:
http://gustavoferrobeco.blogspot.com/